Ninguém viu
o vento chegar ao anoitecer.
Ninguém viu
o lustre balançar,
os ciscos pelo chão
a rolar.
Ninguém ouviu
a porta dos fundos bater.
Ninguém ouviu
a janela do quarto
se abrir,
a telha do telhado cair.
Somente se notou algo
como uma chuva de verão.
Somente quando a luz se apagou,
o relógio também parou.
Acordados,
o mundo varrido.
transformado em abrigo
para mendigos.
Do egoísmo de ter na mão
a fortuna,
tão fraca e suja
como a lama.
A ganância rompeu o piso
e agora suja a roupa
das damas
e apaga o brilho,
dos julgados temidos,
homens do poder.
Da tardia,
não se consegue mais voltar.
E dos homens se fizeram velhos,
destruindo seus sonhados planos,
seus muitos anos.
Na recordação dos tempos,
a consciência de que havia tempo
para impedir que ao anoitecer
chegasse o vento
e nos levasse
a esperança
de viver.
Amarildo Fernandes Rubia
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