Nasci no mar, de parto natural.
Fui amamentada pela sua sopa
salgada.
Embalada pelo berço de ondas,
adormecia na praia
sobre uma cama arenosa.
Filha única da Terra,
fui criada como uma criança
mimada.
Presenteada com o mundo,
adorava passar o dia brincando
com os seres que eu criava.
Por estar em toda parte,
fui chamada Natureza e aos deuses
consagrada.
Coroada rainha pelo Sol,
reinei soberana sobre
a vida e a morte.
Pari tantos filhos
que fui declarada a mãe mais bem
dotada.
Renovada a cada ano,
tornei-me símbolo de abundância
sem fim.
Mas, após a bonança, veio a tempestade.
Passei a ser saqueada e depois
abandonada.
Trocada pela tecnologia,
fui julgada obsoleta e a senti
a dor da ingratidão.
Até que o astro rei me reanimou.
Fui revigorada, julgando-me já
derrotada.
Restaurada como um obra-prima,
hoje volto a subir ao palco
para reger o espetáculo da vida.
Amarildo Fernandes Rubia
Comments